quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Carta aberta ao Sr. Primeiro-ministro

Sr. Primeiro-ministro:

Dirijo-me a Vexa bastante angustiado por ver o nosso país derrapar para o desastre e sem sinais de capacidade de recuperação de tal desgraça. E por estranho que pareça, face aos últimos acontecimentos e ataques que lhe têm sido dirigidos, é em Vexa que vejo a tábua de salvação de todos nós, tendo em conta o alto cargo que legitimamente desempenha e as inerentes possibilidades desse cargo na prossecução do bem nacional.

Explico-me. Vexa e alguns dos seus colaboradores têm-se mostrado particularmente ofendidos pelo facto do carácter do Sr. Primeiro-ministro poder estar a ser posto em causa. Pois eu desejo afirmar que o carácter de Vexa está mesmo em causa e como uma natural consequência de comportamentos muito graves de que, de modo algum, Vexa se retractou.

Por ter cometido erros ninguém lhe pode atirar pedras.

Mas concordará que temos de nos preocupar com aquelas pessoas que, havendo praticado faltas graves, mostram não as entender como tal, mesmo quando confrontadas com o problema. É que tais pessoas provam, na prática, não se regerem pelas mais universais e comezinhas normas éticas, o mesmo é dizer que demonstram ser pessoas sem carácter e nas quais não se pode confiar. Se essas pessoas, ainda para mais, como acontece com Vexa, dispõem de poder e exercem cargos de alta responsabilidade, a questão, como é evidente, assume proporções terríveis com implicação no bom funcionamento das instituições e no bem nacional.

Ora, Vexa tem muitos pecados, publicamente conhecidos, de que nunca se retractou. Recordo apenas um. Poder-se-á confiar num Primeiro-ministro que tirou um curso de engenharia da forma que Vexa o fez? Poderemos confiar num Primeiro-ministro que cauciona o oportunismo, uma vez que nunca dele se retractou e, portanto, deu claro sinal de que, sob a sua governação, é perfeitamente válido em Portugal enveredar por tais caminhos? Poderemos confiar num Primeiro-ministro que desta forma mostra não querer saber dos gravíssimos problemas éticos que afectam os partidos e estão a destruir o nosso pais?

Sr. Primeiro-ministro, o problema de fundo não são este ou aquele seu erro mais antigo, o problema de fundo é o seu manifesto não arrependimento, é a sua teimosia em não os reconhecer e, portanto, a certeza com que ficamos de que vai continuar a praticá-los, o que as notícias do dia a dia tem indiciado e/ou provado.

Nestas circunstâncias, e tendo em conta a legitimidade do seu lugar, a sua altíssima importância, a dificuldade em encontrar, no imediato, alguém que o possa substituir, a grave crise que atravessamos e que necessita de firme e respeitada condução, exorto Vexa a manter-se no seu cargo e a retractar-se, rejeitando as manobras oportunistas e de aproveitamento do aparelho do Estado, aceitando reger-se por um vulgar código de ética e a fazer uso dele na governação.

Pode Vexa estar ciente de que, ao dar esse passo, prestará um inestimável serviço ao país.

A sua retractação fará desmoronar uma série enorme de habilidades e impunidades e, acima de tudo, será um inequívoco sinal, para o interior e o exterior de Portugal, de que uma nova era irá começar. Não acabarão os problemas num ápice porque são muitos. Abrir-se-á, todavia, uma janela grande de esperança e Vexa será festejado. O reverso, custa-me dizê-lo, porque estou apenas a apelar à aceitação de um vulgar código de ética, será o de uma vil saída. Ou Vexa não concorda que é uma vileza recusar a prática de um vulgar código de ética?

Uma vez mais exorto Vexa a retractar-se e a tirar desse acto todas as suas benéficas consequências.

Subscrevo-me, angustiado,
Pedro Paulo de Faria